Num dia entre 20 e 26 de fevereiro desse ano eu me vi tomando café da manhã com pessoas de 4 línguas diferentes. Foi em num albergue, em Buenos Aires. Torre de Babel!!! Nos entendíamos no inglês e, claro, linguagem gestual e risadas. Tínhamos então uma brasileira (eu), uma americana, um israelense, e um sul-africano. O sul-africano, um cara de olhos verdes, cabelos claros e pele bem bronzeada, contava que ainda não sabia o que queria da vida, mas que futuramente seria escritor (até agora não sei se estava brincando ou falando sério, porque ele era engraçadíssimo. O cara transpirava carisma. Em um segundo passávamos de um assunto sério para uma gargalhada, e geralmente era ele o responsável por isso). Ok. Mas entre uma risada e outra, ele falou uma coisa que eu achei MÁGICA, e por isso nunca mais esqueci. O cara (puxa, estou tentando lembrar o nome dele, mas…) contava que apesar de ter 27 anos não tinha certeza de suas escolhas. A única coisa que sabia é que escreveria um livro. No mais, viajava. Queria saber mais sobre a vida, sentir coisas diferentes, conhecer pessoas, lugares e histórias. E começou a contar uma das histórias que um dia alguém havia contado pra ele. Vou tentar reproduzir as palavras dele. Pelo menos o sentido em que ele falou cada frase, e como ele contou, me lembro exatamente.
“O fato é que eu não tenho certeza sobre as coisas que espero. Mas sei que também não estou completamente errado. E tenho uma coisa pra contar. Quando você está perdido, meio sem saber o que pensar, sem rumo, ou precisa tomar uma decisão que você sabe que vai influenciar para o resto da sua vida, uma coisa pode ajudar. Você começa a pensar no que foi ontem, e então no que foi na semana passada, e então no mês passado (gesticulava delicadamente com o dedo indicador), e começa a voltar no tempo. Você então chega aos seus dezoito anos, e então aos quinze, aos dez… e então finalmente chega aos seus sete anos. E lá, nos seus sete anos, é que está a resposta. Você é o que você era quando tinha sete anos. Você vai descobrir isso. E quando você não souber o que fazer, tente se lembrar do que você pensava quando tinhas sete anos. Porque é lá que está a resposta. O que você pensava quando tinha sete anos é o que vai ajudar você agora, tantos anos depois.”
Não sei se o cara realmente queria ser escritor, e se um dia vai descobrir o que realmente espera da vida, mas bom contador de histórias era. Quando ele colocou um ponto final no que dizia todos ficaram calados. Queríamos era ouvir mais. Depois daquela manhã ele passou a ocupar um lugar na minha memória. E sei que não fui só eu que saí daquela mesa com uma sensação de que a gente sempre guarda um pouco da criança que foi por baixo dessa pele que envelhece. Nos meus sete anos, vejamos, eu era sonhadora demais.
Nada mudou.