O Romanoff avisa que abasteceu o Flickr com novas fotos de Frankfurt (crédito das imagens acima devidamente reconhecido), mas ainda não me disse como são as cucas alemãs.
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Sempre achei tão bonito o nome do movimento do qual Goethe, nascido em Frankfurt, fez parte, lá no início do romantismo literário alemão: Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto, em português). Diz-se que o romantismo nasceu na alemanha, com Os Sofrimentos do Jovem Werther, mas a história é controversa. Dizem também que nasceu na Inglaterra, com William Blake. Não me importo muito em argumentar a favor de um ou contra outro, na verdade. Eu bebo na fonte do ultra-romantismo byroniano, que influenciou toda a segunda geração romântica brasileira. Spleen, ambientes sombrios, platonismo no amor, o mal do século, o dualismo (atração e medo, desejo e remorso)… O mito (é um mito ou é fato?) de que Álvares de Azevedo morreu virgem faz parte dessa idealização da mulher e das relações, tão presente na obra do escritor. “Foi poeta, sonhou e amou na vida”, quem não conhece? Tão lúdico e sublime, e tão IRREAL, tendo partido da poesia de alguém que não conheceu o amor inteiramente. Isso só é possível na literatura, amor assim como o dele, só de espera, sem ânsia, sem pele. Lord Byron, o britânico que o inspirou, foi descrito como “louco, mau e perigoso para se conhecer” por Lady Caroline Lamb, APÓS o término do tempestuoso caso que a aristocrata tivera com o poeta.
Lord Byron era “Don Juan”, libertino, apesar de ser coxo, e ao contrário de Álvares de Azevedo, desfrutou de todos os melhores pecados da carne, teve inúmeras amantes, foi admirado e fazia parte do imaginário das mulheres por sua literatura excêntrica. Sua imagem pública era declaradamente copiada dos vilões góticos; o arquétipo do “homem fatal” (soa-me brega e vulgar, essa expressão, mas é a que melhor define o que pretendo explicar). Talvez o escritor encontrasse sua felicidade (volúpia, digo) exatamente no crime, no que não lhe era permitido pelas leis sociais. Não vejo motivo para não salientar também que geralmente os heróis românticos e de energia desafiadora, tal como Byron, são irresistíveis para suas “vítimas”. Algo vampiresco no ar? Literariamente é permitido; em sonhos, também (um testemunho! uma confissão! déjà vu). Entre as extravagâncias do escritor, alega-se ainda que tenha tido um caso com a própria irmã, Augusta, do qual a moça saiu grávida.
Eu pararia de descrevê-lo por aqui, mas acho importante também dizer que o QI estimado de Lord Byron era de 180; o normal oscila entre 90 e 105, por aí. Ainda, ele foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da maconha. Sobre esta, não é novidade que era/é muito usada por escritores de contos fantásticos, e não somente. Na época de Poe a moda era ópio. Éter também, acho. O Horacio Quiroga tem um conto chamado O Inferno Artificial, em contraposição a Baudelaire e seus paraísos, em que descreve os efeitos do éter. Quiroga usou muito essa droga na tentativa (?) de amenizar (há sempre um pretexto, um “onde tudo começou”) as agonias de sua biografia, que será tema de outro post, portanto não falarei sobre isso agora. Apenas para bom entendimento, digo que a vida do escritor teve uma seqüência de tragédias em família.
Voltando ao título deste texto, um trecho de Goethe – e não o trecho final, que eu acho triste demais para encerrar um post. Prefiro este, com uma idéia mais VIVA do amor:
“(…) Guilherme, o que é o mundo para o nosso coração sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica sem luz! Mal colocas dentro dela a lamparina e já se projetam imagens das mais coloridas na parede branca! E mesmo que todas não sejam mais do que efêmeros fantasmas, elas nos fazem feliz enquanto permanecemos ali, acordados, e como criança nos extasiamos com suas aparições maravilhosas. Hoje não pude ir ver Carlota, uma visita inesperada me segurou em casa. Que havia a fazer? Mandei o meu criado ao encontro dela, só para ter junto de mim alguém que tivesse estado em sua presença. Com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo! Não tivesse vergonha e teria me atirado ao seu pescoço e coberto seu rosto de beijos.
Falam que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve seus raios e reluz por algum tempo durante a noite. Dava-se o mesmo comigo e aquele rapaz. A lembrança de que os olhos de Carlota haviam pousado em seu rosto, em suas faces, nos botões de sua casaca e na gola de seu sobretudo, tornava-o tão querido, tão sagrado para mim! Naquele momento não daria aquele rapaz nem por mil táleres! Me sentia tão bem em sua presença. Deus te livre de rir disso, Guilherme! Serão sempre fantasmas os responsáveis por nos sentirmos bem?“
(Os Sofrimentos do Jovem Werther)